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Querido Evan Hansen - Esticando a baladeira de uma mentira sincera



Um filme que caminha entre assuntos sensíveis como depressão, ansiedade e suicídio, o que, por si só, já é um grande desafio a ser executado; agora, criar uma conjuntura harmônica e quase sempre eficaz, em uma narrativa que consiga prender o espectador a maioria do tempo, em um filme musical, isso é o que Evan Hansen constrói. Esse quase sempre é interessante ser pautado por pequenas problemáticas que o filme apresenta em certos momentos, mas que vamos expor mais a frente com cautela e sem spoilers.

Primeiramente, devo dizer que não sou fã de musicais, o último que me ganhou foi Rocketman, me fazendo ir atrás de diversas músicas de Elton John após o filme, que hoje muitas delas são as minhas favoritas. Mas para mim, o filme do pianista é uma obra prima difícil de se comparar, e, assim, não farei essa covardia aqui, depois dele, nem sei dizer qual foi o último musical que me rendeu completamente – apenas contextualizando minha aproximação com musicais para vocês.

Diante disso, vamos a trama do filme: Evan Hansen, um garoto que ainda está no colegial e que sofre com problemas psicológicos, ligados a depressão e ansiedade, tem dificuldades de se relacionar na escola, fazer amigos etc.; dentre as atividades dos tratamentos, que se revezam entre medicamentos e exercícios ligados ao autoconhecimento e autoestima, Evan precisa escrever para si mesmo, da forma mais positiva possível, sobre como foi o seu próprio dia.

Acontece que esse e-mail, carta, ou “recado para si mesmo”, por obra do destino e contratempos, acaba no bolso de Connor Murphy, um garoto “bad boy” com muitos problemas psicológicos, que tira a própria vida dias depois. Assim, todos terminam achando que Evan era grande amigo do falecido Connor, e, por isso, o próprio Evan, que nunca foi sequer notado por qualquer pessoa da escola além de um familiar que não da a mínima pra ele, começa a receber atenção de muitos, inclusive de Zoe, garota por quem Evan era apaixonado e, para piorar a situação, era irmã do falecido Connor. Entre confusões que intercalam entre: confortar o coração das pessoas com relação ao luto, além de sensibilizá-las para a problemática do suicídio, e questões morais sobre até onde sustentar uma séria cadeia de mentiras, o filme revela uma narrativa extremamente inquietante e intensa.

Analisando as questões voltadas as músicas, as letras são bastante envolventes, sensíveis, criadas para a própria narrativa e participam de forma significativa dela, não expressando apenas o que o personagem sente, ou quer falar, mas participando diretamente da construção da conjuntura de diálogos e até dos acontecimentos. Para aqueles que gostam de parafernálias, cenários absurdos e grandes flash mobs, esse não é a proposta da obra, é algo mais sobre a letra das canções e a narrativa. Os atores cantam de forma magnífica, com tons posicionados de forma estratégica para que o conjunto da obra se mantenha agradável, além de respeitar o estado emocional de um personagem – se alguém está chorando, com a voz diferente, falha, o timbre da voz daquele ator, na música, continua mantendo essa característica, por exemplo.

O roteiro tem alguns problemas com certos personagens, pois inicia uma construção interessante com eles, mas depois eles somem, se perdem completamente na narrativa. Além disso, o filme tem um problema para seguir para o terceiro ato, para o final da história, retornando para cadeias de eventos que pareciam conclusivas, páginas viradas, mas não são – existem momentos que isso até tem um caráter positivo, mas na maioria deles é algo como, “então, acabou agora certo? Ah, não? E agora? Eita, ah sim, voltou para isso foi...? Era importante, né? E agora?”, de forma que o último arco da a sensação de ser finalizado umas três vezes.

Diante de tropeços, narrativa intensa e polêmica, que tem uma considerável sensibilidade positiva com os temas relacionados a depressão, ansiedade e suicídio, e desafia o telespectador para reflexões sobre a moral (em cima das mentiras contadas), Querido Evan Hansen é um filme extremamente necessário para os dias atuais e que merece um olhar cuidadoso para o julgamento da obra. Pequenas cenas, músicas de diálogos, revelam muito mais do que aparenta, relacionando elementos do início com o final do filme, além dos posicionamentos dos personagens, uma vez que todos ali carregam uma bagagem complexa de problemas. Inclusive, a obra apresenta um cuidado primoroso com recursos técnicos de imagem, mas principalmente de som e atuação do elenco, aos amantes de musicais, vale muito a pena conferir.

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